Terence McKenna - dezembro de 1994




Acho apropriado falar um pouco sobre mim, já que meio que, ao longo dos anos isto se tornou uma espécie de uma banda de um homem só. 
Eu cresci em uma pequena cidade no Colorado em circunstâncias extraordinariamente comuns. E por alguma razão - eu não sei se, genética ou algo na água ou algo assim - eu sempre fui muito propenso à obsessão. E uma obsessão deu lugar a outra. Então aquele hábito de coletar pedras deu lugar a coletar borboletas, que deu lugar a produzir foguetes, que deu lugar às meninas, que deu lugar às drogas, que deu lugar à política. E assim por diante. Fascinado pelo mundo. E como um caçador de pedras e colecionador de borboletas, eu era bastante impulsionado esteticamente e irracional. O que me interessou foi a iridescência em certas ágatas, certas piritas, certas borboletas tropicais, certos tipos de peixes de recife. Algo sobre a luz, a emoção visual do mundo. E isso me levou a muitos lugares. E quando eu tinha quatorze anos de idade e li o livro de Aldous Huxley, The Doors of Perception, onde ele dá uma descrição muito contida e cavalheiresca de uma experiência com mescalina. E eu reconheci aquilo ali como verdade e disse que se isso fosse mesmo que parcialmente verdade, era imensamente importante. E comecei a perseguir essa vasta área de disciplinas interligadas que realmente não tem nome, mas podemos nomear as disciplinas. E você sabe do que estou falando: botânica, etnografia, química, função do DNA, dinâmica cultural, xamanismo, linguística, teorias da magia natural, relação do homem com o meio ambiente, e assim por diante. O nexo de preocupações que se aglomera em torno da pergunta: o que somos? De onde viemos? E para onde vamos? E, como um jovem de quatorze, dezesseis anos, quando essas perguntas se formam pela primeira vez em sua mente, uma resposta razoável é procurar o banco de dados cultural. Certamente existem respostas para essas perguntas. Quem somos nós? De onde viemos? E para onde vamos?
Bem, se você tem algum tipo de filtro intelectual, pode rapidamente se certificar de que nossos melhores esforços não são nada mais do que histórias incompletas contadas ao redor da fogueira. Na verdade, não sabemos qual é a nossa situação. Quer dizer, estamos enfrentando um fenômeno que mal podemos colocar em foco em nossa esfera cognitiva, e é o fenômeno da nossa própria existência! O que isso significa? O que significa, em primeiro lugar, ser uma criatura biológica, ser um animal? O que é issoo? E então: o que será isso, inserido, então, em uma cultura com histórias e linguagens e cânones estéticos e literaturas e hipóteses científicas sobre o cosmos, e assim por diante? 
E minha jornada pessoal, se você quiser colocar dessa forma, passou por uma série sucessiva de - eu quase diria - decepções, mas despertar poderia ser outra palavra - quando percebi que ninguém sabe claramente o que está acontecendo. Essas religiões tão carregadas de sua própria pompa não são melhores do que suposições inspiradas. E a ciência opera seus milagres ao transformar sua empresa em uma espécie de jogo de salão confinado à categoria "matéria e energia". Portanto, você pode viver e morrer dentro dessas estruturas intelectuais, se quiser. Mas as pessoas curiosas, pessoas de circunstâncias incomuns ou viajadas, geralmente ficam insatisfeitas com as respostas convencionais.
E então, além de tudo isso, você pode adicionar o fato de que, ao longo dos últimos cem anos, o que entrou na caixa de ferramentas dos ocidentais pensantes é toda uma gama de substâncias que alteram a consciência que não existiam antes. E aceleram, acentuam a dissolução de paradigmas sancionados, basicamente. Em outras palavras, todas essas coisas a que você pode se agarrar - catolicismo, ideais democráticos, hassidim, marxismo, freudianismo, você sabe - todas essas coisas são expostas simplesmente como artefatos culturais pitorescos; máscaras pintadas e chocalhos montados por pessoas de boas intenções, mas claramente não entendem muito bem a situação.
Bem, eu pensei que aquele processo de desconstrução da realidade cultural terminaria em uma espécie de liberação do cinismo, onde você se torna uma espécie de espertalhão. Você sabe, ninguém pode acusar você de nada. Você já esteve lá, você fez isso. Acontece que essa fase existencial, que alcancei por volta dos dezoito anos, é ela própria simplesmente um lugar ao longo do caminho, e que persistindo, então, empurrando para estados alterados da mente e para culturas estranhas, comecei a ver que havia uma paisagem de significado. Mas não foi o significado que eu já tinha ouvido. E isso foi bastante chocante para mim, porque parte de minha jornada intelectual havia passado pela psicologia de Carl Jung. Então, eu estava muito preparado para a ideia de que todos os sonhos, todas as mitologias religiosas, estão perfeitamente conectados uns aos outros sob a superfície. E o liberalismo assume a posição generosa de que todos têm uma parte da ação. 
Os budistas entendem alguma coisa, os taoístas entendem alguma coisa, os cabalistas entendem alguma coisa. Eu estava recebendo uma mensagem diferente. Eu estava recebendo a mensagem de que ninguém entende nada, que todo o empreendimento cultural está 180 graus estúpido para a verdade, que estamos absolutamente ao contrário. Que, até agora, a iniciativa de pensar nos afastou radicalmente de entender qualquer coisa.
E ao longo dos anos, tentei abrir espaço para essa explicação alternativa, e suponho que este seja o lugar adequado em tudo isso para fazer minha declamação padrão contra a esquividade. Há muitos achismos neste mundo; uma maré crescente disso. Alguns deles foram fomentados não muito longe de onde nos sentamos esta noite. E eu represento para mim mesmo - e espero convencê-lo disso - idéias radicais, idéias inovadoras, mesmo idéias peculiares, mas não idéias vagas ou absurdas. E é mais ou menos como o juiz da suprema corte Douglas disse sobre a pornografia: é difícil definir, mas você sabe que é quando vê. E, à medida que os paradigmas sancionados se rompem - ciência e religiões, que certamente estão se desintegrando -, do vácuo surge um zoológico incrivelmente exótico de aberrações intelectuais de todos os tipos. E, portanto, o que você precisa invocar para lidar com essa situação são regras de evidência. Ferramentas para separar o joio do trigo, em outras palavras. E embora o que direi aqui possa parecer peculiar, nada disso está além do reino da testabilidade. E nada disso está repleto, espero, de contradição.
Portanto, esses fins de semana têm funções diferentes para pessoas diferentes. No curso de fazer o que fiz com meu cenário pessoal, acabei conhecendo muito sobre plantas e o uso antropológico de psicoativos e de química e coisas anedóticas, e fico muito feliz em compartilhar tudo isso com vocês, desde as receitas e de como fazer isso, porque isso é muito importante para capacitar os kits de ferramentas pessoais e a tecnologia das pessoas. No início, eu era muito entusiasmado com essa parte do processo de ensino, porque sentia que estava sozinho tentando fazer com que as pessoas tomassem altas doses de psicodélicos e prestassem atenção. Pois isso não era uma experiência de festa, era algo no limiar da profundidade metafísica. Agora parece que a exploração psicodélica está viva e bem, consagrada na cultura como uma minoria de três por cento a ser tolerada aproximadamente com o mesmo nível de tolerância concedido aos praticantes avançados de sadomasoquismo. Então isso foi resolvido. E então o que me interessa mais agora é que para mim todos esses anos de absorção psicodélica tornaram-se um novo modelo de como a realidade funciona. Um novo modelo do que é o mundo. E várias pessoas, ao se manifestarem aqui quando se apresentaram no círculo, referiram-se à ‘time wave zero’ esta noite, ou me pediram para falar sobre o tempo e o I Ching
O papel que represento me faz lembrar de quando éramos crianças (ou talvez ainda continua até hoje), mas há um gênero de desenho animado do homem barbudo e corpulento em uma túnica carregando uma placa que diz algo, geralmente “O fim está próximo” e “Arrependam-se! ” Bem, como um racionalista, um platonista e um admirador de todos os tipos de veracidade probatória poderia encontrar o caminho para essa posição, eu não sei. Mas é nessa posição que estou. Realmente estou bastante convencido - não diria 100% - de que o que estamos vivenciando aqui no final do século 20, que chamamos de caos ou aceleração cultural ou globalização ou apenas a concatenação de múltiplas crises sociais é, na verdade, algo muito mais profundo do que uma mera crise em nossa política ou em nossos estilos de gestão, ou algo assim. É que o mundo cultural - o mundo da cultura e da história humanas - está atingindo algum tipo de clímax no mesmo momento em que o processo biológico evolucionário (que está operando neste planeta há quatro bilhões de anos) também está atingindo um clímax. E ambas as trajetórias simultâneas em direção ao avanço estão ocorrendo em um contexto ainda maior, onde as próprias leis da física estão passando por algum tipo de mudança de fase local ou transformação.
E estou completamente ciente de como isso parece maluco no início. Quer dizer, qualquer problema que você tenha com isso, eu tive de sobra. Em primeiro lugar, toda teoria apocalíptica sempre se concentra em um momento não muito distante no futuro. Nunca houve qualquer porcentagem de objetividade em dizer que a Terra vai acabar em 50.000 anos. Simplesmente não há substância nisso. No entanto, quando você começa a comparar ontologias, você deve sempre se lembrar: isso não é um vale-tudo. Existe apenas um certo número de produtos intelectuais no mercado. O que a ciência está vendendo? A ciência está vendendo a ideia de que, há algum tempo, sem motivo, o universo surgiu do nada em um único momento. Bem, agora, o que quer que você possa pensar sobre essa ideia, observe que é o caso limite para a credulidade! Você entende o que quero dizer? Quero dizer: seja verdade ou não, é a explicação mais bizarra para a realidade possível para a mente humana conceber. E esse é o primeiro passo com a ciência.
Então, o que isso gera? Qual é a consequência dessa visão de mundo científica? Uma marginalização progressiva e uma redução da ênfase no que significa ser um ser humano porque o universo é enorme no espaço e no tempo. Nossa galáxia é absolutamente comum: uma entre bilhões. Nossa estrela é absolutamente comum: uma entre trilhões. Presume-se que nosso planeta seja de um tipo comum. E a biologia é considerada uma conseqüência necessária de certos regimes químicos em certas temperaturas. E assim por diante. Então, o que você obtém, por conseguinte, como o papel humano neste esquema científico é virtualmente nada mais do que apenas testemunhar: realizar certas medições que causam o colapso do vetor de estado e testemunhar. E o universo é um acidente, e todos os processos subsequentes são acidentes, e nós somos um acidente, e o valor é conferido, e o significado é uma ilusão do ingênuo, e assim por diante. Esse é o legado do positivismo, do materialismo, do pensamento que se estendeu nos últimos 200 anos na Europa e agora domina o planeta.
O problema é que isso vai totalmente contra o dado primário, para usar um chavão filosófico. O dado principal. E qual é o dado primário? É a presença sentida da experiência imediata. Em outras palavras: estar aqui agora é o dado principal. E não quer dizer que se trata de uma série de acidentes e que você é irrelevante e que sua dor não é dor e que sua esperança não é esperança. Isso diz a você outra coisa. Diz a você: isso conta. De alguma forma, isso importa. Eu importo. Minha vida é importante, minha família, a cultura, o empreendimento humano, este planeta, sua biota - isso é importante. Tudo importa. O significado é intrínseco como dado primário. E ainda é negado pela filosofia que governa este planeta e define sua agenda. Podemos conversar sobre como isso aconteceu amanhã. É uma história interessante de impropriedades históricas e chamadas ruins e oportunidades perdidas e estupidez imensa em momentos críticos.
Mas esta noite o que quero evocar para você é: quais são suas consequências? Precisamos de uma metáfora que possa conter o demônio do futuro que conjuramos. Ajustar as instituições construídas por caras de perucas empoadas 200 anos atrás é uma tentativa difícil de manter a coisa toda unida. O mundo está entrando em uma fase de oscilação cada vez mais caótica. Isso não é consequência do que o ser humano tem feito, é parte da dinâmica da matriz humano-biológico-geológica que representa o planeta. A biologia nunca pára. Passou da fase unicelular para a multicelular, ocupou todos os nichos, deixou os oceanos, ocupou a terra. Em seguida, entrou no espaço da fase linguística: entrou no domínio do significado, e lá ergueu sociedades e indivíduos conscientes e reflexivos. Agora, por meio da interação catalítica com a tecnologia, a espécie humana está se preparando para se redefinir. E essas transições de fase são importantes. Na vida deste planeta, que é de quatro bilhões de anos, provavelmente não podemos olhar para trás, para não mais do que meia dúzia desses tipos de transições de fase.
Bem, agora eu quero voltar a um ponto que é - o quão improvável de uma transformação apocalíptica acontecer em nossa própria época. Usando uma espécie de argumento reducionista de que há um tempo enorme, e sendo uma vida tão curta proporcionalmente, que a probabilidade de sua vida cair no momento dourado é muito pequena. Mas isso não é verdade nessa situação, é muito improvável que não aconteça. É a fusão da tecnologia, essa globalização da cultura, essa criação de um mar eletromagnético de informações - são fenômenos que só acontecem nos momentos terminais do avanço planetário. A própria história é a onda de choque da escatologia. Este é o slogan que venho construindo para transmitir pra vocês: a história é a onda de choque da escatologia. Se você não sabe o que é escatologia, é uma boa e velha palavra teológica. Significa “as coisas finais”, “as últimas coisas”. E o que aprendi com os psicodélicos - e estou convencido disso até os ossos, quer minha própria teoria matemática (timewave zero) possa resistir ao teste ou não - é que o tempo não é necessariamente impulsionado pelo passado. O tempo não é como uma avalanche de consequências causais. O tempo é mais como um processo atraído por um atrator. E a razão pela qual a evolução aconteceu neste planeta em tão pouco tempo, a razão pela qual o surgimento da consciência aconteceu sem seguir todos os becos sem saída que estavam abertos para a evolução dos primatas, é porque não é uma caminhada aleatória em direção a lugar nenhum. É, de fato, uma trajetória definida pelo campo por onde nos movemos. E a maneira de pensar nisso é como uma superfície topológica: que o tempo não é desprovido de traços característicos, não é invariável como Newton insistiu e presumiu para construir seu cálculo. Quer dizer, pode parecer invariável quando você está calculando as órbitas dos planetas, mas qualquer um que já passou por uma falência, um divórcio, um caso de amor, a morte de um ente querido, algo assim, sabe que essas coisas são fenômenos únicos. Milhões de pessoas morreram e ninguém nunca morreu da mesma maneira duas vezes e deixou as pessoas ali sentadas da mesma maneira. As coisas que importam estão imbuídas de singularidade, e essa singularidade é transmitida por esse meio invisível que a ciência, para funcionar, teve de negar. Isso é basicamente disso que pretendo tratar.
E enquanto desenrolamos este fim de semana, falaremos um pouco sobre o I Ching, sobre como as culturas se tornam obcecadas por certos aspectos da natureza e, então, no ato de explorar essa obsessão de maneira muito criativa, outros aspectos da natureza são completamente esquecidos ou negligenciados. Por exemplo, no Ocidente, somos os mestres da matéria e da energia. Quero dizer, quando você pensa que cem mil anos atrás estávamos lascando sílex e que hoje podemos desencadear a fusão - o processo que ilumina as próprias estrelas - que podemos desencadear a fusão em nossos laboratórios como um processo experimental, isso é absolutamente assustador . Quero dizer, essa é uma longa, longa jornada ao âmago da matéria, ser capaz de realizar um truque como esse. Enquanto isso, nossa compreensão do tempo é infantil. Não temos teoria do tempo. Dizemos que, na maioria dos casos, deve ser tratado como invariável e, se você estiver trabalhando com a relatividade especial, então, na presença de objetos gravitacionais massivos, você confere uma curvatura muito leve ao continuum do espaço-tempo, e isso é tudo para o tempo. E, no entanto, o tempo é a dimensão que mais nos martela persistentemente, porque é nas costas do tempo que você cavalga para este mundo e é ávido por mais dele que você afunda na escuridão da própria morte.

Perguntar: Você acredita em evolução ou em desenvolvimento?

Oh sim. Uma das palavras que não escapou dos meus lábios esta noite por acidente é "novidade". Novidade é um conceito que elaborei ao longo dos anos, inspirado em Alfred North Whitehead. Mas, a meu ver, no cosmos - ou como você quiser chamá-lo - há uma luta entre duas forças implacáveis: a novidade de um lado e o hábito do outro. E deixe-me descreve-los por um momento, e acho então que você verá que isso é verdade. O que é hábito? O hábito é fazer as coisas da maneira que você sempre fez. O hábito é tradição. O hábito é um comportamento circular. O hábito é seguir os creodes que já foram estabelecidos por atividades anteriores. É o que Sheldrake chama de campo morfogenético. 
O que é novidade? A novidade é autoexplicativa: é o que quebra o padrão. Novas conexões. Novas possibilidades. E o universo está em um estado de tensão dinâmica entre essas duas tendências. A novidade surge - novos movimentos artísticos, novas tecnologias, novas invenções, novos costumes sociais, novas classes - e então o hábito se reafirma - feche os teatros, mate os judeus, restabeleça a velha ordem. E isso continua indefinidamente.
Mas, A boa notícia é que esta não é uma luta maniqueísta, não é uma luta eterna. A novidade está vencendo. A novidade está ganhando, centímetro a centímetro, iota a iota. Ao longo de milhões e bilhões de anos, o universo foi se tornando mais novo, mais conectado, com diferentes regimes de temperatura, novos domínios da lei física. Porque no começo o universo estava muito quente. Você não poderia ter química orgânica. Você não poderia ter sociedades. Bem, então, o universo é um motor que conserva novidades: ele produz novidades e então age para mantê-las. E usa essa novidade para construir o próximo nível de novidade. Assim, sobre a matéria, ele constrói polímeros de cadeia longa, moléculas de DNA, constrói uma estrutura molecular orgânica. Sobre isso, a vida animal é organizada. Sobre isso, animais superiores sencientes complexos. Sobre isso, humanos que usam tecnologia. E sobre isso, a sociedade global em que vivemos.
Pois bem, observe: algo interessante aconteceu ao fazer da novidade o nosso valor a ser conservado. De repente, o empreendimento humano não é periférico. De repente, o que importa é o empreendimento humano! O cosmos tem movido seus ovos cada vez mais perto de uma cesta por eras. Você sabe, a ação agora não está nas briófitas ou nos celacantos ou nos répteis, a ação agora está em uma única espécie de primata. Toda a natureza parou sua atividade para se virar e observar o Homo sapiens sapiens, o macaco que pensa duas vezes subir ao palco e começar a trabalhar com a novidade em uma escala como jamais havia sido visto antes. E essa função de construção de ferramentas - e eu uso a palavra “ferramenta” no sentido mais amplo possível: a linguagem é uma ferramenta, a organização social é uma ferramenta - isso é o que fazemos. Construímos ferramentas. E McLuhan observou muito sabiamente: essas ferramentas são extensões de quem somos. Elas são distintas de nós apenas em nossa opinião, mas na verdade representam extensões de nossa humanidade.
E agora - bem, por algum tempo; obviamente, por cerca de 10.000 anos - algo realmente estranho está acontecendo. Porque antes disso, o tempo tinha um caráter totalmente diferente. Mesmo em uma época em que havia pessoas usando fogo e praticando rituais e lascando pedras, meu deus, que monotonia! Quero dizer, tente imaginar 10.000 anos onde o que acontece é: você começa lascando a pedra de um lado, depois lascando de ambos os lados, e isso é saudado nos registros arqueológicos como um avanço cultural impressionante. Estamos falando de um grande tédio em um nível. Cerca de 10.000 anos atrás, começou a acelerar e as pessoas mudaram-se para as cidades e começaram a elaborar formas sociais especializadas, e assim por diante. Bem, então, cerca de cem anos atrás, isso passou por uma ordem de magnitude de aceleração. E cerca de quinze anos atrás, passou por outra ordem de magnitude de aceleração. Portanto, agora estamos vivendo em um tipo de época totalmente diferente. Nosso kit de ferramentas culturais está sendo substituído aproximadamente a cada dezoito meses. Houve um tempo em que não era substituído a cada 18.000 anos.

Pergunta: O que você quer dizer com “kit de ferramentas culturais”?

As ferramentas pelas quais entramos no mundo. Por exemplo, em agosto me disseram que a Terra se moveu. O Mosaic é a ferramenta mais poderosa já criada para mover as mentes humanas na web. Três semanas atrás me disseram: lixo Mosaic! Quem precisa disso! O Netscape é a ferramenta mais poderosa já criada. E você joga com o Netscape, e compara com o Mosaic, e tem que admitir: sim! É melhor. Ordens de magnitude melhores. Mas a velocidade com que essas ferramentas estão sendo substituídas é fenomenal.
A outra coisa que está acontecendo é que todos os tipos de especialidades estão fazendo avanços que não estão sendo integrados a outras especialidades. O empreendimento cultural não está sendo administrado, está fora de controle - o que é uma boa notícia, eu acho. Porque se estivesse sob controle, provavelmente estaria sob o controle de alguém com planos não muito agradáveis para o resto de nós. Acho que a grande boa notícia é que o processo cultural está expressando sua própria dinâmica. Tenho absolutamente fobia de teoria da conspiração, só acho que é uma maneira boba de pensar sobre a realidade. Deus ajude quem tentar assumir o controle deste tigre…

Pergunta: Não entendo. Por que desenvolvimento? Esta é uma premissa sua: que há tempo, que há desenvolvimento para uma evolução. Porquê isso?

Bem, porque eu acho que o registro histórico mostra um movimento progressivo da forma mais simples para a forma mais complexa. E então a pergunta é: como isso acontece? E existem diferentes teorias sobre isso. Mas, na minha opinião, está muito claro que, conforme você volta no tempo, o universo se torna um lugar cada vez mais simples.

Pergunta: gostaria que você deixasse claro se você está considera que há tempo ou se não há tempo. Devemos deixar isso claro.

Bem, esta é a questão de: existe tempo absoluto ou o tempo é definido pelos sistemas embutidos nele? É uma questão filosófica. Suponho que, se eu fosse pressionado, diria que é definido pelos sistemas embutidos nele. Mas estou dizendo - você vê, para a ciência, o tempo não é exatamente uma coisa. Torna-se algo parecido com a relatividade porque está associado ao espaço, que é mais parecido com uma coisa do que o tempo. Mas estou sugerindo que o tempo é uma coisa real; tão real quanto a eletricidade ou os campos eletromagnéticos. Daquela vez, bem, eu realmente não pretendia entrar nisso, mas resumidamente, aqui está a parte: a ciência usa a teoria da probabilidade. Isso é realmente o que a ciência é. É uma espécie de expansão da teoria da probabilidade. E a teoria da probabilidade diz que ... você sabe, a primeira coisa que você aprende quando estuda a probabilidade é que o acaso não tem memória. Eles enfiam isso em você. Então, eles dizem a você: se você lançar uma moeda cinquenta vezes e sair cara cinquenta vezes, quais são as chances de que saia cara cinquenta na próxima vez? E a resposta correta na classe de probabilidade é: meio a meio. As probabilidades são sempre de cinquenta por cento. Mas um jogador que jogou aquela moeda cinquenta vezes e viu dar cara apostaria que daria cara e ganharia, porque há algo engraçado nessa moeda. Se as probabilidades fossem realmente de cinquenta por cento de uma moeda dando cara ou coroa, então o resultado mais comum de um lançamento de moeda seria a moeda cair em sua borda. E esse é o resultado mais raro que existe no cara ou coroa. Você pode passar a vida inteira em bares e nunca ver uma moeda cair de pé.
Portanto, a teoria da probabilidade é falha, mas as falhas são de tal natureza que, uma vez que você aceitar a teoria da probabilidade, você nunca será capaz de detectar a falha. Porque, em certo sentido, a teoria precedeu a observação. E o que estou dizendo é que sistemas complexos - sistemas humanos, sistemas biológicos - não operam probabilisticamente. Eles operam de acordo com uma regra diferente, que até recentemente a melhor descrição que tínhamos vinha da filosofia chinesa. Era chamado de Tao. E a ideia é que existe essa força invisível que constrói as coisas - impérios, famílias poderosas, escolha o que quiser- e ela destrói essas coisas de acordo com leis que são muito, muito misteriosas e parte do Tao. Bem, essa onda do tempo que desenvolvi é essencialmente o Tao sem mistério. Ele remove todo aquele estorvo metafísico e diz: aqui está um algoritmo inteiramente formal e explícito que atende a todos os critérios do Tao. E o ponto que quero deixar para vocês esta noite é que o entretenimento - você nem mesmo tem que aceitar essas idéias - apenas o entretenimento dessas idéias é uma experiência fortalecedora, porque coloca nossa era histórica e cada um de nós individualmente em um conjuntura muito crítica no processo alquímico da salvação cósmica, se você quiser colocar dessa maneira. Em outras palavras, muito depende de como tudo isso vai acabar.
Atualmente o que está acontecendo é que estamos caminhando para um tipo de supertecnologia - uma sociedade da informação global, e assim por diante - mas, estranhamente (e você tem que voltar a McLuhan para isso), as razões sensoriais que estão sendo reforçadas pela nova tecnologia eletrônica são como as relações sensoriais que existiam 15.000 anos atrás. Em outras palavras, se a escrita impressa é de fato uma doença cultural - ou, não, uma condição: a escrita impressa impõe uma condição à mente humana, que agora está melhorando. E à medida que a nuvem de condicionamento e instituições criadas pela impressão é levantada, descobrimos que não somos senhoras e senhores vitorianos, cidadãos-modelo no estado jeffersoniano, mas sim que gostamos de dançar em transe e nos aventurar sexualmente e nos sujarmos. Em outras palavras, há um impulso arcaico que surge quando recuperamos nossos sentidos. Alguns de vocês podem ter lido o maravilhoso livro de Morris Berman chamado Coming to our Senses. Bem, eu nunca conheci Morris Berman, mas eu concordo totalmente com tudo o que foi dito lá. A história foi uma experiência incrivelmente prejudicial. E agora acabou, em certo sentido, e somos como as vítimas de algum tipo de bombardeio muito prolongado. E agora acabou e podemos começar a juntar as peças e dizer, bem, o que o cristianismo fez à nossa sexualidade, o que o monoteísmo fez às nossas relações de gênero e assim por diante - agora podemos consertar tudo isso. Mas é esse empreendimento paradoxal de um neoarcaísmo ocorrendo em uma sociedade hiperglobal ciberdélica. É por isso que piercing corporal, tatuagem, dança trance, experiência com drogas, experiências com percussão - todas essas coisas que considero serem sinais muito saudáveis ​​desse impulso arcaico que está surgindo na sociedade. Quer dizer, o que foi criado pela era do cavalheiro adequado foram excelentes maneiras à mesa e genocídio na maior parte da superfície do planeta. Porém, tudo isso, todas essas mudanças que estão acontecendo, cada coisa deve dar lugar à próxima. Tipo, a gente nunca vai chegar a nenhuma forma de equilíbrio entre aqui e a concrescência; este ponto à nossa frente cerca de dezoito anos no futuro, onde todos esses vetores biológicos, culturais e físicos entram em fase e criam uma transição de fase. Porque, em certo sentido, a história está sendo forçada a se repetir em um ritmo incrivelmente acelerado.

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